segunda-feira, 21 de junho de 2010

Erro


A noite está linda.
O céu em um tom antes nunca visto, em um azul anil que quase esconde a lua-de-trevas;
As estrelas tentam brilhar diante do brilho daquela lua negra;
E nenhum som se faz presente.
Ouço pois um leve gemido que arrepiou-me a pele;
Um som manso e inocente de uma menina que sabe o que faz.
Sua sedução e leveza seria capaz de possuir qualquer homem;
Seu companheiro está satisfeito e sua fala domina a menina.
Por instantes ouço a música que acompanha seus orgasmos,
mas logo é interrompida pela ousadia do casal.
A orgia encanta-me os olhos e deliciam meus ouvidos,
Mas uma mancha vermelha corta o céus que agora sangra cada estrela.
A noite era perfeita para o encontro;
Dois demônios se amam sem saber;
O desejo não os deixa pensar e os demônios vão ganhando forma.
Grandes pares de asas tampam a janela e gritos angelicais ferem meus ouvidos;
A lua cobriu todo o céu com seu brilho sem luz;
E os gritos dos anjos calaram-se com o choro do menino que estava para nascer.

O fim de seus pais é o brilho do seu amanhecer.
Duas luxúrias não deveriam se encontrar.
O medo bloqueia meus pensamentos...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Passado


Uma cadeira baixa, de madeira, dura e desconfortável,
próxima à janela e eu ali estou sentado.
Lá embaixo vejo um grande terreno vazio e com muito mato;
Ao fundo da paisagem, um imenso muro de concreto formado por incontáveis prédios;
No terreno, crianças correm, brincam, se machucam, se sujam;
Juntos estão rindo de seus desastres, compartilham seus sonhos e vivem aquilo que chamamos: Infância.
Mas o vento frio que me toca a face,
Seca-me os lábios cobertos por pêlos que não me enganam a idade;
Suja-me os olhos com a imunda poeira das construções;
E tampa-me o nariz com seu desprezável cheiro de poluição.
Então logo já não posso degustar de suas risadas,
Nem mesmo sentir o aroma da, ainda verde, paisagem.
Tão pouco posso ver o mundo com olhos de criança.
Mas acordo feliz por sonhar com a felicidade que, talvez, nunca tive.
A felicidade que, talvez, nem mais exista.