sábado, 1 de outubro de 2011

O Natural


O quarto escuro é, talvez,
o lugar mais claro dessa casa.
A luz apagada, a janela fechada,
a porta quebrada e sua roupa rasgada.
O corpo continua ali como deixei
antes de sair. A vela sobre a mesa
já se cansou de queimar.
O banho saiu-me frio.
Seu rosto deixa claro a última
noite, e desde a última está ali.
Mais um dia comum e o desejo
de servir-me de você junto aos ácaros.
Como boneca a uso, usufruo e a deixo de lado.
Silenciosa casa, o som dos ratos
lambem meu ouvidos.
O dia chega, vem esquentar-te o corpo.
Teus olhos fechados não podem
me ver partir, tão pouco teus braços
imóveis podem me impedir.
O pão mofado, o leite estragado.
Um dia normal, a noite natural.
Sua boca calada não pode
dizer adeus.