inconsistente

E quando penso em desabafar,
resta-me a lua para escutar.
Descalço eu toco a areia,
tão gelada, tão macia.
E o vai e vem da onda,
sua mente louca, imprevisível.
O normal tornou-se chato,
agradar-te é a diversão.
Mas quem dá à onda o ritmo?
Quem dará à tua mente o caminho?
Uma paixão estranha, um amor de loucuras.
O medo em você me faz esquecer
que amá-la é natural, passageiro
e anormal. Para que estar tão perto se os
olhos nos distanciam?
Tamanha inocência vê-se em seu olhar.
Tamanha tal, meu corpo há de desejar.
Falar, ler, escrever.
O retrocesso do raciocínio em uma escala negativa.
Amar, poder, ter.

O Natural

O quarto escuro é, talvez,
o lugar mais claro dessa casa.
A luz apagada, a janela fechada,
a porta quebrada e sua roupa rasgada.
O corpo continua ali como deixei
antes de sair. A vela sobre a mesa
já se cansou de queimar.
O banho saiu-me frio.
Seu rosto deixa claro a última
noite, e desde a última está ali.
Mais um dia comum e o desejo
de servir-me de você junto aos ácaros.
Como boneca a uso, usufruo e a deixo de lado.
Silenciosa casa, o som dos ratos
lambem meu ouvidos.
O dia chega, vem esquentar-te o corpo.
Teus olhos fechados não podem
me ver partir, tão pouco teus braços
imóveis podem me impedir.
O pão mofado, o leite estragado.
Um dia normal, a noite natural.
Sua boca calada não pode
dizer adeus.

Floor

Talvez eu mude de ideia,
se no caminho eu perceber,
que para você há solução.
Talvez eu mude de ideia,
quando por fim,
as mágoas libertarem meu coração.

Já não insisto tanto, eu
simplesmente não me importo.
Com o tanto que há por aí
não vejo bons motivos para
continuar a existir.
Eu já não penso em viver,
juro, meu desejo é morrer.
Eu não luto, eu não brigo,
agora sigo em frente rumo
passos do ex-inimigo.
Palavras fortes de uma mente fraca.
Um coração ferido gerou outra desgraça.
Insuportável medo de mim mesmo.
Ver você seria um último desejo.
Palavras tristes de um solitário.
Um coração partido gerou mais um desiludido.

Mas talvez eu mude de ideia,
se eu tiver tempo a pensar
antes do chão vir me abraçar.

Copo

Sei que não há justificativas
para tal erro.
Mas viver guardando-o para mim
não está ajudando.
Tento apagá-lo da memória, mas
a culpa em mim é muito maior
do que a vontade em esquecê-lo.
Por incrível que pareça não
me arrependo de ter sido teu.
Me arrependo somente por não
saber aproveitar;
Por você não saber me amar.

Que cruz, que cruz, faz-me suportar.
Até quando essa criança vai
querer comigo brincar?
Até quando a mim vai querer usar?

Cuidado, cuidado bebê,
posso eu te descartar.

Vida

Eu vivo em um
mundo de loucos;
Aqui sorrisos são poucos,
palavras são ofensas
e a felicidade pertubação.

Aqui as portas não
suportam os gritos.
Aqui a música não
chega aos meus ouvidos.
Aqui não ouço minha oração;
não encontro paz em
meu coração.

Aqui a água corre fria;
suspiro é agonia.
Amor não é emoção;
mero desejo do coração.
Aqui a vida esfria,
minh'alma agonia.
Não sinto ar em meu
pulmão.

Eu vivo em um
mundo de loucos.
Aqui olhares são poucos.
Há trancas nas janelas
e não ouço o som do portão.

Outra

Coração mole,
que bate em meu peito
e se desmancha em emoção.
Que me engana e me puxa
e me cerca e me prende
no mais fundo abismo da minha alma.
Que me abraça e me canta, encanta,
e desanda meu pensar.
Que me deixa pra lá, me deixa a amar,
me faz desejar quem foi e já não é mais.
Que me faz rir e chorar e não me dá
tempo a pensar.

Que me esmaga e me fecha e me faz,
ser menos eu.

Semanal

Uma pertubação atrapalha
minha oração.
Um doce afeto,
aperta minha mão.

Que anjo é esse,
que me pega a orar.
Põe-se a me ver chorar, com
doce carinho, seu rosto a me acariciar.
Seu gelado nariz, sua face face põe-se
a aparecer.
Vem anjo, eu quero você.

Acaricia-me como jamais faria outrém.
Acaricia-me pois como você, não há
outro alguém.
Belo sorriso, um olhar próximo.
Um anjo diferente, um amor indigente.
A pele macia, o beijo molhado.
Sei lá anjo, me pegou apaixonado.

De 7 em 7 me pego a te observar.
Como é lindo, como é lindo
o teu olhar.
Quem é você que me atrapalha a orar?
Quem é você que me faz imaginar?

Voa, voa anjo.
Longe de mim, vou te amar.
Assim tão perto...

... vou te devorar.

Insonia

Olhos fechados,
evito ver.
A mente aberta,
só pensa em você.

É madrugada e já não sei o que fazer,
as horas passam e me econtro
perdido no tempo.
O tic-tac do relógio me irrita,
tentando me enganar com seus ponteiros
fúteis.
Faz horas que estou aqui parado,
e ele insiste em rodar inúteis 5 minutos.

O corpo permanece deitado.
Meus pensamentos insistem em encontrar você.
A imaginação me atormenta.
A noite está tão serena.
Mas continuo sem o que fazer.
Os olhos observam seu retrato.

O incenso queima teu perfume.
Sua fumaça me faz formas.
As cinzas fedem a estrume.
Você já não traz o cheiro das rosas.

Tic-tac, insiste o relógio:
Uma droga de poema.
Um inútil coração.
Uma doce menina.
Um adeus em vão.

Ruiner

Às vezes juntamos pedras
imaginando construir um castelo,
e com muita dificuldade
empilhamos cada pedrinha,
sonhando com a recompensa do trabalho...

Ah, quem me dera ter feito
tal castelo de isopor e
não ter de sentir o peso
do desmoronar...

Sonhar...tão simples ato involuntário
que nos leva a lugares
inesquecíveis,
que nos traz momentos e situações
inenarráveis,
que nos mostra detalhes de uma realidade
da qual queremos fugir.
Sonhar...aquilo que nos traz de volta
o que se perdeu:
esperança.

Construimos castelos de pedra
em chão de areia,
esquecemos que sonhos não se
repetem e, então, amarguramos a
vida por algo que nunca existiu.

Angio

Percebi que você é minha única saída
para livrar-me dessa solidão tão infinita.
Para viver nesse mundo de imaginação
foi você minha única solução.
E quando me deito na escuridão do meu quarto,
no leito de meu medo seu número é meu primeiro passo.
Com toda doçura de tua voz eu me encanto,
a ela ouço e de imediato sumo com todo meu pranto.
Em você depositei toda confiança,
pois com você eu sinto segurança.
Em você encontrei uma nova maneira de viver,
pois em você descobri uma nova maneira de ser.
E estou com toda essa enrolação,
pois é muito difícil dizer o que se passa no coração.
Porém mais difícil é dizer
o quanto eu amo você.

Insaciável.

De gota em gota a água cai do chuveiro,
batendo em cada canto de meu corpo,
limpando cada parte que você tocou.
De gota em gota a água cai do chuveiro, e
filetes se formam, percorrem meu corpo
e lentamente para o ralo escorrem,
como lembranças que já não nos servem mais.

Ah se eu pudesse menina,
um dia seria pouco para lavar cada veia
e retirar do meu sangue tanto
veneno que aqui você deixou.
Um dia seria pouco, para
lavar meu rosto e limpar o sal
das lágrimas que aqui secaram e
você pouco se importou.

Tão pouco seria a água
para regar esse nosso amor
que um dia floriu e hoje secou.
Mas como uma árvore seca, minha menina,
não precisamos de flores para mostrar
que nosso amor é o mais belo deste jardim.