quarta-feira, 29 de agosto de 2012

À Noite



Hoje acordei meio assim, meio perdido. Confuso e alucinado com seu cheiro que ainda paira no ar de meu quarto como se não percebesse a janela aberta. A cama ainda quente não engana minha mente com um mero sonho. E é por isso que escrevo. É por isso que lhe escrevo essa carta. A confirmação de uma noite de luxurias que deixou seu aromado cheiro do mais selvagem toque pelos corredores dessa escura e sozinha casa. Cujos vizinhos, certamente, no íntimo de seus quartos e silêncio de seus atos acompanharam-nos até o suportável de seus corpos fracos. O bule ainda quente entrega a hora de sua saída, mas a sua íntima sobre o sofá mostra que você irá voltar. Voltará para comigo, no banheiro, de novo amar. Para secarmos a água no ferver de nossos corpos incansáveis, insaciáveis. No auge de nossa idade invejamos Bob, o cachorro do vizinho que de longe nos observa da janela sob um olhar vazio. Invejamos anjos e demônios que ao nosso lado observam o ápice do amor e pecado entre jovens amantes. Eu escrevo para reviver a intensidade de seus prazerosos gritos em meio a seu corpo contorcido de prazer. Para tentar, talvez, sentir de novo o balbucio de seus gemidos que as paredes não puderam segurar, nem mesmo o ranger da cama ousou abafar. Entre as nuvens até mesmo a lua se esconde envergonhada. Ela, que já observou o mundo e seus delírios, cala-se diante de nossos atos. Até mesmo o relógio apressa-se em adiantar as horas. Eu escrevo, eu escrevo. Eu escrevo pois na verdade sei que a janela aberta foi, para ti, a saída que não a trará de volta.